Filix Jair
10.5.04
 
ah! Dorival...
filixjair@yahoo.com.br
¿como se es cuando se desarrolla tal practica?


AQUI (int.)
Olhar para si mesmo: não com os olhos de fora, de encontro a um espelho, mas com os olhos para dentro, de encontro a um espelho. Buscar vibrações, mas abandonar estas pistas no meio do caminho: são apenas pretextos, maneira de ligar o motor para verificar se tudo funciona. Trata-se de um registro de captação sensível muito delicado, mas é assim que se passa em mim - preciso saber onde está meu corpo, que costuma desaparecer em intervalos (ir)regulares a maior parte do tempo. Foi assim que vieram as palavras: não para explicar o que quer que seja, mas para complicar: "buscar mais uma dobra, constituir alguma corporalidade semântica". E minha carne que já não havia quer ser filé, um sanduíche em que o conceito é pão - tem gosto, matéria, sabor, materialidade sensível. Não mais buscar, mas construir a carne - agora sim, no espaço: atenção, as coisas vieram para meu estômago, que se reverteu em lugar coletivo, sítio de eventos, ações e acontecimentos que não mais me pertencem. Órgãos como espaços públicos, arena de acalorados debates: os atores - vocês, nós - aparentam sempre indiferença, em performances que beiram a excelência; meu esforço é tornar mais-que-concreto que as coisas sim interessam verdadeiramente aos outros, que é possível enxergar para além de si mesmo (digo isso ao outro, não a mim). Insisto numa singular poética de passagens, sem qualquer ilusão de permanência: "ficção da fixação": FF: monumento-espelho ao outro coletivo que somos nós quando nos agrupamos. Atenção ao filtro e ao adesivo de afetos + interfaces: aqui há um caminho significante, se soubermos sair da frente deste vento interessante frente ao qual produzimos ondulações e desvios. A praticante como túnel de vento aerodinâmico - está aí o problema: sempre venta, mas "de onde vem o vento?", "hoje, de onde e para onde ele sopra?" Ah... ele sopra (o vento); ela sopra (a ventania). Prefiro identificar o sistema de arte como "sistema de produção sensível", pois o que interessa é a materialização sensível do conceito, aquém e além do conceito: "o vento e seus efeitos" (Dorival Caymmi). A estranha demanda de suspender os processos, coisas, estruturas, reviramentos e avessos: a insistência em fazer com que tudo isso atravesse a si próprio é parte deste jogo, assim como a auto-pergunta (hoje massificada, ontem romântica, um dia iconoclasta, mas sempre índice de singularidade) - "será que só eu sou assim?" (entoada sem drama, beirando o riso, em prol da materialidade do ser como irregular e excessivo).

ALI (ext.)
Lá está a praticante caminhando, percebemos como se levanta e se deita, e em seguida desaparece na multidão. Nada de ruído, apenas o deslizar das roupas, um som de texturas suaves e não mecânicas. FF: não vale nada, mas é um indicador de repouso. Agora, como corre a praticante, pelas largas avenidas e becos estreitos! Com cuidado, anota as placas das ruas, com nome e número. Depois, ela se deita - não está ao seu alcance (isto se revelará para quem?) o quanto estes movimentos e gestos reverberam na dinâmica de outros corpos. Será? Deslocamentos e vibrações: como? Nenhuma tristeza, não devemos levar em conta filtros de registro emocional, que pouco importam. Pouco, muito pouco importa - há ruído, sim, sons, sim, interfaces, sim. Hábitos. Continuem deslizando pelo tecido urbano, pelas linhas de um circuito próprio, pelas tabelas, limites, franjas (não-margens). Naqueles instantes determinados em que se abre os olhos, a praticante respira, levanta os braços e escreve - transmissões ao vivo (gravação, corte e edição): "não se aproxime", "encoste em mim", "as peles se tocam, quente superfície". O deslocamento continua, pelo centro da cidade, ao redor do núcleo que ia e vinha, ia e vinha. Virá. Todos observavam a praticante que passava, sentia-se o efeito mas a identificação visual tornara-se impossível. Coisas da eletro-eletrônica. Traços dos últimos desafios: cada qual em seu canto, saindo simultanea e sinuosamente diversificando percursos até o ponto de encontro. Até. Quando ficasse evidente que foi por ali que se passou e que por ali se passará, a luz vermelha se acenderia e o zumbido ímpar dispararia. Fim do jogo (ou de uma etapa?). "Não tenho certeza de que toquei seu corpo..." - será? Viva a praticante quando se aproxima e se afasta, como agora. Como, agora.




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