Filix Jair
31.1.03
 
Com a palavra, Filix Jair:
“Ocorre que alguns dos fatos narrados e supostos abaixo já se efetivam há muito através dos caminhos espertos e agudos de agentes ligados no desdobrar mais sub (sem considerações do tipo ‘in’ e ‘out’). Assim que quando se especula acerca do ‘ready-made como coisa percussiva’, o fato é que aqueles animadores do HAPAX já efetivam – há muito – tal peculiaridade, tornando concreto o encontro afro-francês na terra brasilis (mais um dos hibridismos do qual tanto nos orgulhamos, e que passamos a incorporar). Deslizando através do Armazém 5 outra noite havia evento em que música minha se ouvia em meio aos vastos espaços lindos do local. Ruídos indicadores da celebração da ‘instantaneidade do instante’, slogam HAPAX, ali se faziam presentes, e me parece óbvio que o ‘grupo de pagode que percorreu o circuito de clubes e bailes da Baixada’ conhecido como ‘Ritmistas duchampianos’ – nome que veio de uma água mineral muito apreciada – tenha nutrido curiosidade e admiração pelo grupo de ação e intervenção que combina a percussão de objetos com ruídos da eletrônica. Daí que novidade mesmo estas coisas não trazem assim tão diretamente, ou seja, para quem olha e esbarra e se defronta. O que mais me interessa lançar neste momento, dentro do problema ready-made/percussão, é o fio da voz: objetos alinhavados, entramados, amarrados – assim a sonoridade vem curiosa. Quer dizer: “coisa amarrada é música, coisa amarrada é ruído, coisa amarrada é som” (refrão de pagode, refrão sim senhor). Quer dizer, quer, quer dizer. Se o francês falou, esqueci, se o tambor africano explodiu, se foi. Mas se o fio estendeu a face de seu oferecer à trama do bem querer a fricção que brilha no lance encorpa veludo na fala cantada: voz. Isso me disseram, de noite, verdade: não menosprezem as possibilidades implicadas nos tornozelos do dizer em som. Claro que o prazer vem num calor cristal, se o encontro se processa bem: sons e voz, palavras deslizando no fio do canto e também saltando em crepitação danada que não para de bater se a coisa é tambor. Voz e coisa já pronta, uma das chaves cripto da canção. Que o diga Allan Turing, que decifrava códigos e que um dia saiu-se com essa: ‘não podemos verificar numa olhada se 9999999999999999 e 999999999999999 são o mesmo número’.”
O amigo FxJ mandou dizer que quem quiser entrar em diálogo direto pode fazê-lo através de filixjair@yahoo.com.br: respostas não 100% garantidas, mas comentários possíveis.


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