Filix Jair
19.4.03
 
FxJ:
John Baldessari ('onde foi que te encontrei antes, John?') numa interessante ponte entre matrizes da arte conceitual e voz (coisas que interessam e impulsionam trans-encontros e des-encontros através dos tempos da história e da existência):

"Baldessari Sings LeWitt" (12'50'', 1972)
"One of Baldessari's most ambitious and risky efforts. Seated and holding a sheaf of papers, he proceeds to sing each of Sol Lewitt's thirty-five conceptual statements to a different pop tune, after the model of Ella Fitzgerald Sings Cole Porter. What initially presents itself as humorous, gradually becomes a struggle to convey Lewitt's statements through this arbitrary means."
[Helene Winer, Art in America]
http://www.vdb.org/smackn.acgi$tapedetail?BALDESSARI_002

18.4.03
 
FxJ:
É como se as coisas musicais não fossem facilmente trazidas para cá, já que desempenham um papel automático em minha vida & coisas afins. Talvez por isso estes longos atrasos; talvez por isso tantas reticências – talvez. Este lugar de escrita tem suas modalidades próprias, e talvez eu as recuse em certa medida, e deva enfim mergulhar de cabeca na medula de seu fragmento doido. Porque parece tão natural como um assobio, tão automático quanto o slogam do 'cantar no chuveiro', tão casual quanto as melodias que os grandes compositores disseram ter iniciado durante uma viagem de ônibus qualquer entre dois pontos quaisquer de suas vidas, num dia comum sem qualquer traço de destaque ou mesmo singularidade. Mas que depois assim ficaram, hoje estão. Que coisa. Mas essa é a grande disputa pessoal – eu, FxJ, atesto, assino, aposto, amarro, defino, deponho: qual o lugar para essa veia musical, a voz mais melhor modulada, na casa, esquina, mundo e adjacências? Existir assim simplesmente sem se notar é coisa tranqüila, que vem, fica e passa; mais difícil é formalizar regularmente para conquistar uma presença ampliada, mais redonda, além da casa pós-casa.

Fiz diversas descobertas, recentemente, às quais atribuo autoria ao menos 'mix': algumas fitas de palestras ou falas, em que a voz torna-se música, como nas leituras que vi de Cage. São coisas de RB que nas quais não me vejo mas que quando ouço puxo para mim, procurando inflexionar as curvas das linhas de áudio e printar em CD e/ou formatos. Como na fita cassete nbp arrancada de um arquivo 1987 (aprox.), audio work oculto porque sem pista de como efetivar inscrição, amarrada na ladeira da preguiça, inoperância errante dos desvios terno&gravata pragmáticos da vida prática. Ai, ai.

Segue mais um insucesso que remonta aos anos finais do século XX (notem as referências ao assim aclamado rei-RC de ‘uma brasa mora’):


"penso veloz"
letra& música: Fílix Jair (1988)

100
200
300 quilômetros por hora

penso veloz

ando devagar
falo devagar
como devagar
bebo devagar

penso veloz

300
400
500 quilômetros por hora

penso veloz

compro devagar
vendo devagar
troco devagar
faço devagar

penso veloz

500
1000
1500 quilômetros por hora

penso veloz

choro devagar
rio devagar
sofro devagar
grito devagar

penso veloz

1500
3000
10000 quilômetros por hora

penso veloz

tiro devagar
ponho devagar
tiro devagar
ponho devagar

penso veloz

 
FxJ:
Os processos relativos à reentrada atmosférica em vida de Filix Jair foram articulados a partir do Rés do Chão: situação e/ou modo de estar à flor da pele, na superfície de um terceiro andar embutido em conjunto arquitetônico da Rua do Lavradio, coração da Lapa, i.e., reduto tradicionalmente boêmio ligado às histórias musicais do Rio de Janeiro. Rés do Chão é animado e articulado pela grande figura de Edson Barrus, o Cão Mulato, ou, como prefiro, mulatocão, o cão com plumas, Cabral de Mello Neto às avessas. Foi ali que vi um muito especial instrumento, “parangolé-percussão”, autêntica pedra de toque entre olho&ouvido praticada na hora mágica pós-ritual carnavália total. Aquilo faz corpo&olho&cabeça curvarem-se numa coisa que faz som, que faz barulho e o murmúrio voa pela Lapa&adjacências, i.e., o mundo, que ainda não descobriu nem irá porque se tornou pequeno para tanto. É preciso querer muito pois só o som-pós-musical pode abri-lo [sem querer comprar banana].


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